DE TOCA EM TOCA - Marcos Craveiro

7 de mai. de 2008 |



Prólogo

DE TOCA EM TOCA, mas que porra é essa agora? Calma, pequeno gafanhoto, deixa que eu explico... hehehe

... bom, a maioria não sabe, mas no mês de maio a Toca dos Efeitos está completando o seu primeiro ano de serviços prestados... por conta dessa data, a Toca vai apresentar algumas novidades, dentre elas, a seção que estréia hoje, chamada DE TOCA EM TOCA...

... a DE TOCA EM TOCA é uma idéia antiga, mas que somente hoje pode ser colocada em prática... o conceito da seção é simples, mas dinâmico, na medida que procura tornar o conhecimento específico e individual dos equipamentos, através dos reviews, mais amplo e completo, trazendo informações específicas e particulares de quem os usa, da forma como cada um emprega determinado efeito, ou porque escolheu determinado equipamento em detrimento de outro e etc... trocando em miúdos, esse é o objetivo da DE TOCA EM TOCA...

... para abrir nossos trabalhos, um grande amigo e colaborador da Toca dos Efeitos, o Marcos Craveiro, que além de músico, é o designer da Toca... hehehe... e, claro, também responsável pelo logo da seção, que é a figura que está mais acima... não deixem de comentar o que acharam do logo... hehehe

... espero que todos gostem dessa nova iniciativa, tanto quanto acredito que ela será muito interessante e útil para músicos de todos os níveis de experiência...

... como de praxe, repiso meu convite para o pessoal fazer parte do mailist da Toca, bastando, para tanto, enviar um email para tocadosefeitos@yahoo.com.br, e para fazer parte e participar da comunidade da Toca no orkut, no endereço http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=50019202

Abraços... \m/



DE TOCA EM TOCA - Marcos Craveiro

Eu, ao contrário da maioria, não fui testar centenas de pedais. Eu venho de uma praia de rock and roll até simplista e fui pra cima de equipamentos, de certo modo, óbvios pra uma boa parcela de guitarristas. Eles vieram parar no meu board sem testar tanto as várias opções do mercado da época, ou seja, os pedais surgiram quase sempre ou como "oportunidades" na hora de um (quase sempre) teste caseiro, na maioria das vezes, ou empréstimos de algum amigo que possuía determinado pedal.

Bom, toco há algum tempo e mesmo não tendo estudado tanto quanto deveria, e caminhado mais como auto-didata, só fui usar pedais quase 20 anos depois de começar, ou seja, usei a guitarra plugada direto em amp a vida toda. Isso me permitiu conhecer minha "pegada" o suficiente para, sem depender de efeito ou pedal algum, obter determinadas sonoridades pro meu pequeno mundo musical. Isso foi importante na hora de somar qualquer efeito pro meu set. Sabia que ao usar, por exemplo, uma modulação, que ela daria um "molho" ao que já obtinha há anos, mas sem esperar que ela "mascarasse" algo que eu não conseguia produzir tecnicamente, ou mesmo que os pedais fizessem por meu som "milagres" ou "transformações radicais". Provavelmente isso tenha sido determinante no produto final do som obtido com alguns pedais, que volta e meia são "malhados" por muita gente.

A escolha dos pedais do meu setup foi quase sempre motivada pela formação de minha banda cover. Queria somente agregar alguns poucos efeitos que permitissem tocar a boa parte do universo do rock 60/70/80 e pouca coisa dos 90 em diante. Se seguisse uma ordem lógica para o que precisava (não segui), 3 pedais entrariam em primeiro lugar no set: Wah-wah, Delay e um booster. Com isso, resolveria de forma simples quase tudo que planejava tocar. Sendo assim, o primeiro pedal que pus no set foi um Wah-Wah "VOX V847". Minha escolha por esse modelo foi baseada nos sons de wah-wah do Clapton do início dos anos 80, mais precisamente do álbum ao vivo "Just One Night" (deixando claro, desde já, que SEMPRE as minhas idéias citadas são aproximações do timbre que curto, e não uma cópia em "espartanos" detalhes). Bem, fazendo uma tour pelas lojas de instrumentos, me deparei com um guitarrista que testava um modelo desse VOX em uma loja, com uma strato plugada nele e um bom amp com drive apenas levemente crunchado. O som era magnífico pro que eu pretendia. Ainda assim, testei dois modelos dos Dunlop´s e fechei mesmo com o Vox pela vocalização e timbragem, muito agradáveis e aproximadas pro que pretendia. Obviamente, passei pelo processo de sentir fortemente a perda de sinal proporcionada pelos wahs e isso foi resolvido com a MOD que o transforma em TBP.

Passei algum tempo só com o Wah, aprendendo a usá-lo nos sons que gostava, e dentro dessa primeira "tríade" que havia citado (wah / delay / booster), o pedal seguinte que se tornava urgente era um outro drive que pudesse ser usado como booster, tanto de volume quanto de ganho em drive. Não me acertei com o Shred Master, minha primeira opção e também "chute". Achei maravilhoso aquele som "Marshall" para riffs que conseguia com ele, mas, dentro do meu set, da minha pouca experiência com pedais à época (não tão alargada hoje em dia) e pra função que precisava, não funcionou. Pensava sempre em outro drive no input do amp resolvendo as duas questões, então, como um pedal mais forte não dera resultado, resolvi partir pra um outro consagrado e mais leve: o TS-9 da Ibanez. Esse tive a oportunidade de testar em casa antes de adquirir, pois um amigo havia comprado pouco tempo antes e me permitiu ficar com ele por pelo menos um dia usando-o. O pedal me deu aquele pouco a mais de drive que precisava e trazendo uma sonoridade rica em médios que me agradou (e que desagrada a outros tantos). Ele também funcionava como drive principal pra boa parte do que toco, caso houvesse impossibilidade de usar o drive do meu amp. Resolveu uma questão, trouxe uma segunda solução de bônus, mas não me dava o volume a mais pra destacar o necessário com a banda.

Esta questão do volume só foi resolvida de maneira totalmente satisfatória quando tempos depois, visitando o handmade Hobbertt, em São Paulo, pra conhecer seu trabalho, ele, em conversa sobre esse e outros assuntos musicais, me sugeriu o uso de um booster de volume apenas, mas agora ligado não mais no input do amp, e sim no loop, onde teria condições de elevar o som já pronto do solo nos níveis que desejasse, sem interferir no restante. Bingo. Havia encontrado a solução ideal e acabei adquirindo um pedal dele baseado no MXR Microamp, intitulado "BABY BOOSTER", que considero um dos pedais mais importantes pro meu som, diretamente ligado com a banda e com meu atual setup. Agora, nos solos ao vivo, não mais "sumia" dentro da banda e, ao mesmo tempo, tinha como acionar o drive a mais com o TS-9 somente se precisasse de mais ganho, me dando mais opções. Lembrando sempre que meu amp é um Solid State, então a maneira de trabalhar nessas circunstâncias onde se deseja mais ganho não são com os resultados igualmente obtidos em amps valvulados sendo boostados ou trabalhando com o pot de volume da guitarra.

O passo seguinte pra banda, fechando a tal "tríade de pedais" necessários pro repertório da mesma, seria um delay. Mas como as oportunidades aparecem sem que você espere, nesse meio tempo me surgiu um Phase 90 para testar à vontade. Sempre gostei dos sons de Phaser dos álbuns de minhas bandas prediletas, e ao ligar o afamado "laranjinha", tomei um susto com a absurda naturalidade com que tudo soava como deveria pra qualquer coisa que eu tinha como referência desse efeito. Não me fazia falta nenhum parâmetro a mais - bastava o knob de speed - e com pouquíssimo uso já me via tendo todos os resultados que tinha em mente, assim como foi com o Wah da Vox. Adiei um pouco mais a aquisição do Delay, tamanha foi a identificação com o Phaser. Nos samples que montei a pedido do Milton, pra "Toca dos Efeitos", e onde recorri às bandas que gosto de tocar, mostrei exatamente como uso este pedal, sem mais nem menos. O detalhe é que, como normalmente não uso nenhum dos pedais de drive antes das modulações como drive principal, o phaser acabou ficando ANTES do drive do amp, trabalhando no input, não no loop. O resultado me soou mais natural. Cheguei a testá-lo no loop, mas não me agradou, achei que perdeu corpo e apenas ressaltou uma característica conhecida desse pedal que é um boost dos médios. Isso no meu setup, reforço.

Bom, agora chegava a hora que a necessidade da banda em tocar coisas onde o delay não era apenas um "detalhe" tornou a aquisição de um obrigatória. O problema não era escolher um delay com sonoridade "X" ou "Y", mas sim que eu nunca havia usado um delay na vida. Como formar uma idéia de algo que não sabia sequer regular, ou como era realmente usado na prática por aí, apenas por textos da internet? A intenção era tocar coisas como U2, Pink Floyd e outros, onde o delay era mais do que um "molho", era algo que fazia parte da construção das músicas, parte essencial tanto dos riffs como das bases, usos estes bem mais complexos que os tradicionais "slaps echos". Dessa vez, me decidi a comprar algo que fosse "meio consagrado" pelos músicos das bandas covers conhecidas da época em São Paulo. Conheço alguns deles pessoalmente e outros apenas assisti com condições de observar o pedalboard usado. O Delay DD-3 BOSS era algo recorrente, e isso há um bom tempo já. Bem, tendo praticamente nenhuma base, comprei esse modelo da Boss. Num primeiro teste em casa já me impressionei com os resultados, ainda que tudo fosse de modo totalmente intuitivo e bagunçado ao usar os parâmetros. Talvez por não ter realmente alguns pré-conceitos de como o faria soar, gostei inicialmente da idéia dele não ter a tal degradação de sinal tão aventada por todo mundo nos modelos análogos.

Partindo do zero, me surpreendi com o quanto me agradava a opção de ter as repetições limpas de um bom modelo digital. Delays para “marujos de primeira viagem” são brinquedos fáceis de não se chegar a lugar nenhum sem um objetivo claro, mas, como a banda pedia coisas específicas, aos poucos começaria a entender como deveria usar o seus parâmetros “effect level, feedback e delay time” ao tentar tirar algumas canções. Como citei no início desse longo texto, a maioria das músicas que toco têm uma timbragem de drives até simples e nada pesada, então, mais uma vez, o delay usado direto no input do amp se mostrou muito eficiente, ainda que, novamente, tenha testado no loop e não tenha obtido ali, com o meu setup, melhores resultados em timbre.

Na época, meu pedalboard era composto de Wah VOX -> TS-9 -> MXR Phaser 90 -> Boss DD-3 Delay, e, no Loop, o Baby Booster do Hobbertt e um excelente Chorus que faz parte do meu amp mesmo, um Ultra Chorus da Fender (com esse nome, o chorus tinha que prestar de alguma forma rs).

Para a banda e sua finalidade, tinha o necessário, até um pouco mais. Mas, uma vez usando tantos pedais, o meu velho e bom som de somente guitarra + amplificador havia perdido “algo”. Ao usar os captadores single coils da minha guitarra e setando o amp pra apenas crunchar, não conseguia mais o mesmo som de antes, havia perdido um pouco do brilho e do leve sustain natural que havia me acostumado por tantos anos nessa situação, tornando incômoda a maneira como eu me expressava com o instrumento, principalmente no uso de acordes e ritmicamente falando. Não havia tomado nenhuma providência com relação a isso, mas já começava a pensar no assunto. Algum tempo depois me veio a vontade de obter uma aproximação do resultado que ouvia nos primeiros discos do Dire Straits, onde uma strato soava limpa, muito levemente crunchada, e com um equilíbrio diferente do que ouvia em outras bandas em situações similares. Pesquisando um pouco, cheguei ao uso do compressor. Sabia que se tratava de um pedal difícil de ser usado, já que na sutileza da sua aplicação você não tem resultados imediatos tão evidentes quanto um phaser. Minha primeira opção era o MXR Dynacomp. Mas, numa pesquisada pelas lojas, apareceu uma boa oportunidade em um Marshall ED-1 usado, mas em estado de novo. Passei um bom tempo sem me encontrar com esse pedal dentro do meu set, reconhecidamente o mais difícil efeito que já usei. Porém, com o tempo, cheguei em um uso onde ele supre aquela perda de sinal com os singles, devolvendo um certo brilho e sustain perdidos quando uso o drive levemente crunchado, problema havido por conta do tamanho do pedalboard.

Consegui alguns resultados em casa muito satisfatórios pra aproximar o meu timbre àquele do Dire Straits, como na base da Sultans of Swing da gravação em estúdio, mas ao vivo ainda confesso não estar plenamente confortável nessas situações que preciso abusar do compressor. Usei em algumas timbragens de músicas do The Police que também excedem-se do compressor, mas ainda não testei com o tempo e calma que isso geralmente necessita, então quase sempre uso-o sutilmente.

A essa época, o board já contava com Wah VOX -> ED-1 compressor Marshall -> TS-9 -> MXR Phaser 90 -> Boss DD-3 Delay, e no Loop, o Baby Booster do Hobbertt e o Chorus do próprio amp.

Passado algum tempo, e algumas experiências aqui e ali com pedais por curiosidade, como o equalizador gráfico da Boss, o GE-7, onde tentei ganhar outras timbragens nos meus captadores e não me senti à vontade com os resultados (e acabei vendendo novo em folha) , um AB/Box da EFX que também desisti ao dividir a cadeia com poucos recursos que ele apresentava e também não me adaptei, e a aquisição de “opções” de drives – no caso, um MXR Wylde Drive pra funcionar empurrando o TS-9 em algumas situações e um RAT distortion pra ser usado como tal, e ou pra sons um pouco mais pesados do que habitualmente tocamos, coisas como Black Sabbath, Ozzy, Scorpions etc., o que acabou não acontecendo com a banda (ambos fora do meu set principal, no momento, e que volto a comentar rapidamente no fim desse texto), cheguei no último pedal que uso constantemente em minha banda – um FLANGER.

A idéia do uso desse efeito não havia me tentado ainda. Na minha banda sou o único guitarrista e não conto com um tecladista, só muito eventualmente com uma ajuda sutil do vocalista tocando violão ou uma guitarra muito singela, sem efeito algum. Em ocasiões onde tenho que fazer arranjos de solos de teclado adaptados à guitarra, principalmente para as músicas do Deep Purple, comecei a experimentar o phaser pra aproximar as idéias. Saía algo razoável, mas não me convencia e o phaser, nesses arranjos, embolava um pouco. Como o chorus era muito sutil pra isso, fui atrás de um flanger, único parente ainda não testado. A primeira idéia, novamente, era um modelo da MXR que conhecia bem pelos discos do Van Halen e que me soava magnifico. Mas o preço me devolveu à minha realidade e fui atrás de algum que tivesse bastante opções, já que tanto o phaser como o chorus que uso não têm muitos parâmetros. Queria algo versátil, pra poder abusar nos arranjos e aproveitar de uma vez só pra usar em todas as canções que pediam esse efeito – Deep Purple, The Police, Van Halen, Stones, Jeff Beck, Queen, e muita coisa dos anos 80, época que esse efeito foi uma febre, enfim, havia muita música/banda onde eu poderia usar bem esse efeito. O pedal testado em loja foi o Boss BF-3, que se mostrou eficiente e versátil para o que eu estava procurando, sem falar do preço justo.

Bom, agora meu set principal, fechado como é atualmente, está assim:
Wah VOX -> ED-1 compressor Marshall -> TS-9 -> MXR Phaser 90 -> Boss BF-3 Flanger -> Boss DD-3 Delay; e no Loop: Baby Booster do Hobbertt e Chorus do próprio amp.

Por melhor desempenho do sinal, diminuindo a quantidade de cabos, e pelo uso efetivo que vinha dando aos pedais, como citado anteriormente, retirei dois pedais do set principal – o Wylde Drive da MXR e o RAT distortion da Proco. Montei com eles um segundo “mini–board” que uso apenas em alguns ensaios e em alguns poucos shows, onde, dependendo do set list, não preciso levar muita coisa, ficando apenas com opção de drive que não do amp do local, e o Rat pra tanto ampliar esta função como servir de booster de ganho pra esse primeiro, além de mover o Baby Booster pra esse “board 2” (que transita entre ambos os boards, assim como eventualmente o delay, se necessário). Isso acabou por tabela diminuindo o peso do board principal, tirando dois pedais e uma fonte, o que pode parecer pouco, mas fez diferença muito significativa. Futuramente, posso mudar o board 1, usando um AB/box mais eficiente do que o que já experimentei, e reconvocando os drives retirados, mas por enquanto isso é o que melhor funciona pro meu universo musical.


Não aprofundei o texto em nada muito específico e nem técnico pois normalmente minhas escolhas acabam sendo mais intuitivas, ainda que o texto tenha ficado grande de todo modo. Espero que seja de algum proveito para essa nova sessão que se inicia e que fui convidado a abrir, ainda que de forma muito simples.

2 comentários

Anônimo

Um post "filosofal", mas muito interessante. Sou um grande fã dos Phasers assim como você, Marcos.
Parabéns e continuem o bom trabalho.

Anônimo

opa! muito legal, ando pesquisando bastante para iniciar a compra de meu set de pedais.

fazemos cover de zeca baleiro, onde o tuco marcondes utilzia pouco efeito, eu tenho um pedal vox igual ao seu e uma zoom2100. quero comprar alguns pedais e aprender a fundo as modulaçoes que o som promove. Esse zoom me deixou em maus lençois no ultimo show e entao achei bem legal seu post.

abraço
morgan

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