DE TOCA EM TOCA – Tito (Banda Telecines)

4 de jan. de 2011 |

ANALISE_DO_PEDALBOARD_-_logo_1

Bom, tive a oportunidade de conhecer a banda Telecines da mesma forma que conheci tantas outras: fazendo eventos juntos, trocando uma idéia na passagem de som e sacando a vibe da banda durante o show dela... dessa forma, conhecí bandas muito ruins, assim como bandas muito bacanas, e das bacanas cito a Telecines, que tocou com a minha banda no final de novembro e fez um belo show...

... agora, em que isso realmente interessa para o blog? Interessa porque o Tito, guitarrista e vocalista da banda, trabalha muito bem as linhas de guitarra, usando de maneira muito interessante os muitos efeitos que ele possui no seu pedalboard... mais que isso, apesar da quantidade, não usa de forma exagerada, razão pela qual achei que seria muito interessante trazer mais um bom guitarrista da cena underground para o conhecimento dos afiliados da Toca...

... e, de resto, vamos de vereda ao que interessa, que é isso que o pessoal quer... hehehe

ENTREVISTA

Antes de mais nada, Tito, obrigado por se dispor à dividir suas experiências como guitarrista com o pessoal da Toca dos Efeitos...

1) Fale um pouco das suas referências como músico, desde o que te motivou a começar a tocar guitarra, até às bandas e músicos que são referência dentro do teu trabalho na Telecines.

Tito: Eu “entrei no rock” por aquela porta do Punk Rock e do Grunge 90s. Curtia Sex Pistols, Ramones, Nirvana, Mudhoney, Sonic Youth Smashing Pumpkins... enfim, isso lá pelo fim dos anos 90. Inicialmente eu era baixista, mas já que eu compunha e minha primeira banda não tava se acertando com algum vocalista – e precisava de um segundo guitarrista – resolvi me aventurar nas seis cordas e procurar um baixista pra gente. No fim, a guitarra me escolheu hehehe.

Essa referência punk e grunge ainda rola e muito. Ultimamente o stoner e o garage rock tem sido as principais referencias dentro dos Telecines mesmo. As bandas do Dave Grohl, Josh Homme e Jack White... e os clássicos também – principalmente o Sabbath. Além dessas ai eu me identifico bastante com o BRMC e a cena shoegazer do fim dos 80 toda: J&MC, MBV, Ride...

2) Qual é o teu setup ao vivo?

Diamond  Tito: Minha guitarra principal é uma Giannini Diamond preta com humbuckers de epiphone les paul e umSupersonic   bigsby. Minha segunda guitarra é a uma Giannini Supersonic com dois humbuckers standart HB da sound. Acho legal falar que eu coloquei esses captadores pra quebrar um galho até junta uma grana e comprar uns gibson da vida... mas desisti quando coloquei eles na guitarra! Paguei 48 reais em cada um e resolveu todos os problemas que a supersonic original tinha pra mim.

Agora vamos pro pedalboard: TU3, Ibanez TS7 (ou um Boss OD2, depende do humor), Vox Wah V845, Danelectro ChiliDog, Delay Oliver DD30, Big Muff Russo, Axcess Phaser, Onner Cooper Tremolo e Booster Snake. Tudo isso vai lá pro Hiwatt Maxwatt G100!

Vale lembrar que tirando o Muff, o vox e o TU3... é tudo pedal barato! O importante pra mim é a distorção ser 100%, o resto é só “perfumaria” mesmo.

Pedalboard

3) Em que ordem ficam dispostos os pedais? Algum vai no loop do amp., ou ficam todos em linha, direto no input do Hiwatt?

Tito: Como a gente não pode se dar ao luxo de tocar sempre com meu amp, meu set é todo em linha direto no Input. Eu até deixo o foot do hiwatt num espaço do pedalboard, mas acabo usando ele pra adicionar um reverb aqui e ali e às vezes jogar com o canal de drive do amp pra mudar o volume. A ordem é aquela lá mesmo: Afinador, distorção low gain, wah, oitavador, delay, distorção/fuzz, phaser, tremolo e booster!

4) Como foi a concepção desse setup? Sempre procuraste algum tipo específico de som, ou a construção dele foi se dando ao poucos, às vezes por acaso, apenas mexendo nos pedais e procurando sonoridades diferentes?

Tito: O coração do set é o Big Muff. Os outros pedais servem como perfumaria mesmo... a maioria é por uma idéia de timbre pra alguma parte de alguma musica mesmo. Daí pesquiso sobre o efeito e acabo levando. Ta certo que nem sempre dá certo, mas daí o cara acaba achando uma outra utilidade pro pedal. Então acho que é um pouco de cada um: ter a idéia na cabeça, querer um pedal específico pra executa-la, ter o pedal na mão e mexer nele até vir uma idéia na cabeça!

5) Como tocamos juntos, tive a oportunidade de tocar com o teu amp., o Hiwatt, que eu não conhecia, mas que me surpreendeu bastante. Entretanto, vendo o show da Telecines, notei que usas o Big Muff russo ligado quase que 90% do tempo. Por que optaste em usá-lo como tua principal distorção? Quais as qualidades que te agradam tanto nele? Usas ele juntamente com o drive do teu amplificador? Se sim, em que ocasiões e buscando que tipo de sonoridade?

Tito: Esse Hiwatt foi amor ao primeiro acorde... melhor transistorizado que eu já usei. Na verdade me agrada mais que a maioria dos Hiwatt valvulados que eu já toquei também... mas daí eu sei que é um pouco de exagero. O problema é que nem sempre uso ele em shows, principalmente fora da cidade – então acabo usando só o canal limpo, por não confiar em drive de outros amps. Como disse antes, o Big Muff é o coração central da história toda. Eu não sei da onde nasceu minha paixão por esse pedal, mas é antiga. Acho que o que eu gosto nele é o quanto é tosco, gordo e pesado. Não gosto muito de distorções certinhas e na medida, gosto delas mais ardidas e disformes mesmo.

Ao invés da maioria dos guitarristas (que eu conheço), eu uso o low gain pra “boostar” o high gain. Como o muff é um pouco fechado e gordão, uso o Tube Screamer antes dele quando quero uma distorção mais aberta e cremosa um pouco. E também quando eu quero desligar o muff e não ficar com aquele timbre limpíssimo. Antes de comprar o wah, usava o Boss Overdrive Distortion com o agudo quase no máximo e o volume altinho também pra dar um boost de agudos, tipo o timbre do solo de “36”. Quando eu comprei o Wah, preferi dar esse boost só pisando nele e deixando na posição mais aguda... funcionou legal!

Mas o TS ta praticamente desligado o tempo todo... o muff casa muito bem com o hiwatt e acaba realçando as freqüências agudas que eu usava o TS pra empurrar. Mas ta lá... vai saber quando eu vou pegar AQUELE amp bacana pra tocar por ai né?

6) Durante o show da Telecines, me chamou a atenção como usavas inteligentemente o phaser e um pedal rosado da linha mini da Danelectro. Normalmente vemos os guitarristas usando apenas ou o equalizer ou o tremolo dessa linha. Por conta da pouca luminosidade durante o show, pareceu-me ser o oitavador. Estou certo? Em que casos procuras usar oitavador, uma vez que hoje vemos cada vez menos guitarristas usando esse efeito?

Tito: É um oitavador sim... que eu paguei R$50 usado! hahaha O oitavador eu uso basicamente em alguns riffs e um ou outro solo. Confesso que motivado por solos geniais do Jack White e algumas coisas do Josh Homme no Them Crooked Vultures também. Alias, o legal desse oitavador ser barato e “ruim” é que ele dá umas engasgadas as vezes – e é essa erradinha dele que é legal!

O riff original de 36, que é onde eu uso o phaser e o oitavador junto, era com um Flanger BF2 que tava comigo emprestado. No fim eu tive que devolver o pedal e comprei esse axcess phaser pra simular aquilo... Acontece que o pedal só tem agudo! Tu liga o troço e já eram as freqüências graves. Daí na gravação a gente tava testando como fazer o riff e um dos testes foi fazer junto com o oitavador, pra compensar os graves... daí veio aquele timbre estranho que foi recebido por um sorriso sincero do produtor. Isso faz a gente voltar a história de antes: comprei o pedal querendo uma coisa, não consegui e ele acabou ganhando outra função.

7) Mesmo durante a passagem de som, mas especialmente durante o show da Telecines, me chamou muito a atenção o riff da música QUANDO A CORDA ESTOURAR. Pode parecer exagero da minha parte, mas fazia muito tempo que eu não ficava com um riff na minha cabeça. Parabéns pelo riff, diga-se de passagem. Riff “patrão”, que impõe respeito, não se faz todo dia... hehehe. Agora, nesse riff usas slide, que ao meu ver fez toda diferença pra ele. Costumas compor tentando variações com o slide? Foi impressão minha, ou essa música é tocada numa afinação mais baixa? Durante o riff só usas o Big Muff, ou mais algum outro efeito?

Tito: Não fala assim que eu fico com vergonha! “Riff Patrão” é o de Hole in the Sky... o de Quando a corda estourar é um riff estagiário! Hahahaha

A gente já usa a afinação mais baixa em um tom (DAFCGD), pra ficar mais grave mesmo. Nessa música o bordão cai mais um tom e vai pra C! Esse riff veio logo que eu comprei o slide, queria fazer um riff com ele naquele clima BRMC da vida, saca? Bem sinceramente, queria fazer um riff que nem os do Joe Perry... mas tocar um troço semelhante e cantar fica fora da minha jurisdição guitarristica hehehe. O riff tem só o Big Muff mesmo – e na a gravação são 3 guitarras: 1) telecaster; 2) semi acústica; 3) telecaster com mic atrás do amp.

Enfim, acho riffs de slide muito bons. É um recurso que exige dedicação pra saber usar de verdade, então acabo usando bem menos do que gostaria. Lógico que eu sempre arrisco alguma coisa com ele...

8) Brevemente pretendes adicionar mais alguma coisa no seu setup? O que e por que?

Tito: Olha, eu tenho quase todos os efeitos “padrão” no meu pedalboard. Posso sossegar quanto a isso. Ultimamente to mais preocupado em adicionar outras coisas no set (uma Firebird seria bem vinda). Eu sinto falta de um bom low gain na verdade. Tanto o TS7 quanto o OD2 não me satisfazem. To de olho no Tube Baby do Eugênio... (EFX). Mas to me segurando.

Logo volta a minha pilha por trocar meus brinquedos baratos por uns melhores, saca? Por enquanto to sossegado. Talvez, quem sabe, só pegar um Eq, ou um ring modulator, ou um danelectro spring reverb, talvez um pog, ou ainda um memory man... hahaha

9) Fale um pouco da Telecines, como começou, projetos da banda pro futuro e etc..

Tito: Cara, na verdade eu tava sem banda desde 2006, quando a “TiTo & Os Fantásticos” acabou... desde então eu só tocava uns covers com uns amigos, ou participava de um ou outro show por aqui e por ali. Logicamente eu não parei de compor e fui guardando as coisas... até que no fim de 2008 eu resolvi gravar em casa um “disco” com 11 sons desses que eu vinha guardando. Na seqüência, eu mostrei pro Lucas e a gente decidiu fazer uma banda a partir daquilo. Ficamos 2009 todo na função de acertar tudo, e fomos estrear somente em fevereiro de 2010.

Agora a gente ta preparando um show novo pra 2011. Compondo algumas coisas novas, preparando uma estrutura de show diferente e decidindo algumas coisas. Acho que vamos gravar um clipe no início do ano e fazer shows por todos os lugares possíveis – que é o legal, né?

10) Falando de música, genericamente, o que tens ouvido atualmente? Há alguma banda nova que esteja te chamando a atenção?

Tito: Geralmente as coisas “novas” que eu ouço são projetos de caras que já me agravam antes. O Them Crooked Vultures foi o ultimo disco que me deixou triste com a vida. Queria parar de tocar depois de ouvir aquilo... fiquei chocado hehehe Também gostei do Imperial State Electric, que é o projeto novo do Nick Royale (ex-Hellacopters). Tem bandas que nem são mais novas... mas vale a pena citar: Subways é um trio com uma pegada pop muito boa junto das guitarreiras. O Raveonettes é demais também, apesar de estar indo pra uma praia muito electro pro meu gosto... O Nine Black Alps é demais também, um “grunge revisitado” muito do caralho. Parlor Mob, Wolfmother... tem bastante coisa na real hehehe

Das bandas daqui eu gosto bastante dos Black Drawing Chalks e dos Vespas Mandarinas. Vindo mais pro sul, tenho curtido pra caralho o som da “ZAVA” de caxias e da “O Curinga” de Novo Hamburgo.

Tito, te agradeço por teres participado do DE TOCA EM TOCA, pois muitas das tuas perspectivas, da forma como vês timbre e som são muito ricos, justamente pela simplicidade e praticidade que procuras no som, no uso do teu equipamento, e etc…

… e aos afiliados da Toca, indico que acessem o site http://www.telecines.com.br, pois lá vocês terão mais informações da banda Telecines…

… de resto, agradeço às todos pela visita e espero que voltem, pois em breve virá mais um texto sobre a “saga-sem-fim-que-terminará-nesse-mês”… hehehe

2 comentários

João Paulo Löpes

Muito massa!
Fui atras do som e curti mais ainda!
Ja baixei todas as musicas,
e td dia ouço...

Até que enfim um rock n roll, cantado em portugues, que não encha o saco !
Parabens pra banda, e pra, Milton!
Otima entrevista e otimo blog!
Abraços


Curti os comentarios sobre os pedais do Tito, rs.

TiTo

Valeu João!
Espero que a gente se encontre em algum show por ai :)

Grande abraço,
TiTo

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