QUE PORRA É ESSA? – Phaser

28 de mar. de 2011 |

Prezados,

Mais uma vez peço desculpas por não ter publicado esse texto nos prazos informados antes, mas isso se deu única e exclusivamente por impossibilidades minhas… a última, uma gripe forte, mas que não impediu de, enfim, publicarmos essa “porra”… hehehe

… e vamos aos trabalhos…

 

Breve Introdução…

Pessoal, como colocado em outras oportunidades, a idéia desta seção veio muito mais pelos contatos recebidos por emails, que mesmo pelas dúvidas que o pessoal deixa através dos comentários… o porque disso, eu não sei… sei, entretanto, que é fato recorrente a dúvida de como soa tal efeito; ou de como é possível usar aquele efeito; ou onde colocar essa modulação; enfim, são todas dúvidas comuns, especialmente quando a empreitada está começando… mas nem só quando começa… às vezes ela já começou, mas esquecemos de algumas coisas, não é verdade? Portanto, para ajudar iniciantes e experientes é que hoje começa a seção QUE PORRA É ESSA?, que visa abordar com detimento os tipos de efeitos, e não apenas as opções que o mercado oferece, como normalmente acontece num review…

… para tanto, convoquei grandes caras para me auxiliar, diria até me ensinar a coisa toda, uma vez todos sabem muito mais do que eu… honestamente, acho que sozinho não faria um material tão interessante quanto o que será possível apresentar quando feito à quatro, seis, ou quiça oito mãos…

… como colaborador fixo/oficial dessa seção, convidei o mestre Charles Fernandes… desde que comecei com o vício por efeitos de guitarras e afins, confesso nunca ter conhecido alguém que conhecesse tanto das profundesas de cada efeito… o Charles costuma ter do seu lado, afora a percepção de músico, o conhecimento mais técnico acerca do funcionamento do efeito… isso é física? Sim, claro, é física, mas a idéia não é dar uma aula de física, mas sim mostrar como ela pode ser útil, ou melhor dizendo, como a compreensão do efeito pode clarear o entendimento do uso do efeito, ou mesmo para achar um efeito para trabalhar melhor um lick novo, ou etc…

… enfim, deixemos de lado as explicações e vamos ao que interessa… ;]

 

QUE PORRA É ESSA? – Phaser (Charles Fernandes)

Não existe expert nato, isso eu sempre soube. Em algum momento todos já se depararam com questões simples, que nos levam a questões cada vez mais elaboradas, culminando até na possibilidade de algo inusitado. Em resumo, a dúvida constante pode ser o maior combustível da criatividade.

Então vamos lá: Que porra é essa? Phaser!

Quem criou o Phaser?

Provavelmente o Big Bang, quando iniciou o universo, criou as leis da física, e por conseqüência 99% de todos os efeitos utilizados em guitarra... (os 1% restantes podem ser atribuídos ao Sergio Dias e ao Jimi Hendrix).

Sim, na natureza conseguimos observar a grande maioria dos efeitos utilizados em guitarra, o que nos leva a crer que os nossos ancestrais tocadores de 6 cordas eletrificadas não eram assim tão criativos. Engano seu! As soluções para criar efeitos similares aos achados em diferentes ambientes acústicos são muito elaboradas.

Vamos tentar entender de onde veio a demanda original ao efeito phaser:

Você já ouviu um órgão de tubos? Dentro de uma igreja? Se não teve esta oportunidade, corra enquanto existem alguns:

Observem esta fonte de som móvel, pois o som sai de múltiplos tubos, em diferentes distâncias do ouvinte, que reflete nas paredes da igreja, em diferentes pontos e em diferentes tempos, e retorna ao ouvinte em uma profusão tridimensional de sensações sonoras. Por si só esta experiência já seria ponto de início para várias possíveis invenções, como reverbs, delays, chorus, phasers, todos gerados de maneira puramente natural, através de um elemento vibratório muito singular, propagando ondas sonoras em um ambiente acústico peculiar.

Mas tudo ao seu tempo. Vamos começar pelo phaser.

Este efeito é gerado pela capacidade do som de se anular, criando um oposto, invertido, fora de phase, faseado.

Lembrem que o som é uma onda, e como toda onda possui a crista, onde se surfa, e o buraco, onde se leva o caldo; a parte de cima e a de baixo; a phase positiva e a phase negativa. Se você conseguir copiar um som, inverter a phase e acrescentar ao som original, ele se anula e nada você ouvirá.

Acontece que cada freqüência possui seu comprimento de onda, ou seja, seu período, quantas cristas e buracos pode gerar por segundo (se formos adotar Hertz como unidade). Isso dificulta muito essa história de inverter a onda para cancelar a phase.

Vamos então observar um efeito existente na natureza que cria estas anulações e que chamamos de Comb-filter, ou efeito pente. Este efeito cria atrasos mínimos suficientes para alterar as phases das ondas e anular “parte” do spectro sonoro (entende-se spectro sonoro a soma da freqüência original, fundamental, sempre mais grave da série, e de todos os harmônicos, mais agudos, que ressoam em conjunto). O Comb Filter pode ser gerado, por exemplo, num ambiente onde o reverb é rico, como em uma igreja, onde existem superfícies irregulares que refletem o som com milésimos de segundo de diferença e podem inverter a phase do som ao refletir. Ao somar com o som refletido na superfície ao lado, ou mesmo com o som original, o Comb filter pode apagar partes do spectro criando oscilações.

O som em movimento também cria outro efeito imitado no phaser, chamado de Doppler, que é a alteração da freqüência em função do movimento, e é exemplificado pela Kombi do seu Juvenal da feira, que sempre passa em frente de casa buzinando: dá pra saber a velocidade e a distância pois a buzina sempre começa aguda e fica mais grave ao ir embora. Estas alterações podem promover Comb filters ao se somar com reflexões.

Estes efeitos acústicos são a base do phaser.

Historicamente falando, uma das primeiras tentativas de se criar Comb Filter e Doppler em um equipamento de utilização musical foi feito por Don Leslie, quando criou a caixa que acompanhou os famosos órgãos Hammond, utilizados para substituir os pesados órgãos de tubos, e que depois ficaram conhecidas pelo nome de seu criador: Caixas Leslie. Basicamente possuem um falante e uma corneta fixos, com profusores giratórios que jogavam o som em 360o, proporcionado as desejadas reflexões de um som em movimento.

Muito tempo depois, com a invenção de osciladores eletrônicos, foi possível dividir o sinal captado por um instrumento musical eletrificado, passar a cópia por 1 delay de tempo mínimo (oscilando entre 1 a 10 milisegundos, dependendo do comprimento de onda que se deseja anular) e, ao se somar ao som original, promover comb filters. Essa ação é feita várias vezes em série para criar o efeito desejado. Ao se modificar a velocidade que o delay percorre os tempos necessários para anular todas as fases de determinado spectro, e a intensidade destas cópias, pode-se criar parâmetros para controlar o efeito resultante.

Na prática, o phaser é aquela, e exatamente aquela, oscilação que temos na hora de afinar a guitarra, disponível dentro de um pedal de efeito, com timbres próprios vindo de variações nos valores dos componentes utilizados para copiar, alterar e somar os sinais captados pelo instrumento.

A oscilação pode ter vários parâmetros, entre os quais os mais usados são:

Rate ou Speed: Determina a velocidade da oscilação

Range: Determina as freqüências que irão anular, e altera o timbre o pedal

Depht ou Intensity: Altera a Intensidade da Oscilação

Os pedais mais clássicos são o Phase 90 da MXR e o Small Stone da Electro-Harmonix, cujo timbre é apreciado pelos guitarristas mais experientes, mas existem inúmeros modelos e marcas similares, inclusive efeitos de modulação parecidos, como o ring modulator, que usam as mesmas bases acústicas e físicas, mas de formas alternativas.

 

MAS COMO EU USO ESSA PORRA? (Charles Fernandes)

Não me sinto a vontade em falar de sons que não faço,  portanto selecionei trechos de sons do repertório de minha banda, para falar da necessidade que tenho no momento que aciono o phaser em meu pedal board.

Uso uma posição muito peculiar, não muito usual, no meu board, colocando o phaser antes das distorções, para deixa-lo mais discreto, e fazer oscilar o ganho do drive se necessário; para quem gosta de um phaser mais “na cara”, use-o depois das distorções.

Para ser bem direto, uso o Phaser para ABAFAR, EMBOLAR,OSCILAR e TIMBRAR, cada um com uma regulagem, posição ou parceria com outros efeitos no meu set. Passarei as minhas intenções diretamente nos exemplos a seguir:

Pink Floyd / Money: sample interessante pois após o solo, o Gilmour retira o Fuzz de silício e o Phaser,  deixando somente a guita e o amplificador. Quando faço este som uso uma Fender Stratocaster com singles originais, e minha primeira necessidade é abafa-la e fazê-la perder o excesso de agudos para este som, usando o Fuzz e o Phaser com oscilação no zero; isso tbm faz timbrar deixando um leve som phaseado retirando palhetadas e dinâmica deixando o som próximo ao de um teclado ---

Van Halen – O uso de drives com mais ganho trás sempre os agudos a tona vindos de harmônicos levantados pela distorção e compressão, e o phaser pode ser uma boa opção para abafar um pouco reduzindo excessos. O timbre abafado permite o aumento do ganho e permite alguns malabarismos técnicos próprios do EVH ---

The Cult / She Sells Sanctuary – Neste som o delay analógico curto e forte é a alma do Riff. Na intro do som adiciona-se um Phaser sem oscilação apenas para embolar e timbrar, como se estivesse com o pedal de Wah acionado e parado em determinado ponto ---

Essa utilização do phaser somente para timbrar é uma boa alternativa para os guitarristas que usam o Wah ligado direto nos solos. É mais cômodo pois não há a necessidade de se posicionar o pedal no timbre desejado. Assim como o phaser pode substituir um wah para timbrar, ele tbm pode chegar perto de alguns efeitos como o Flanger e o Trêmolo, e substituí-los em pedalboards menos completos. No caso do pedalboard que uso regularmente, não possuo um Flanger, justamente por achar que o phaser o substitui com plena satisfação.

Abaixo destaco exemplos de substituições possíveis de Flanger para Phaser que executo com meu equipamento:

Doobie Brothers / Listen to the music :  Esse uso do Phaser, substituindo o Flanger, é um dos mais interessantes e enfáticos pois a oscilação aparece bastante, mas bem lenta. Desta vez o phaser abafa as guitarras limpas e oscila, dando uma ótima timbrada que tira a monotonia da guitarra limpa na base ---

Heart / Barracuda : Abafa, embola, oscila e timbra, quer mais modulação que isso? No sample do som original é usado um Flanger, mas pode-se, tranquilamente, fazer com um phaser ---

Fechando o texto com substituições, pregamos a ausência de preconceitos em nosso set, Phaser fazendo papel de Flanger, Fuzz ajudando um Crunch, enfim: primeiro entenda como o efeito funciona, e depois utilize-o em todo lugar que achar necessário, absolutamente sem regras ou receitas de bolo. E este é o propósito desta coluna aqui na Toca dos Efeitos.

 

E COMO SOA ESSA PORRA SOZINHA? (Milton Morales)

Complementando esse excelente material escrito pelo Charles, achei que seria também elucidativo mostrar como o phaser soa, mas neste caso 1) só com a guitarra; e 2) quando colocado antes ou depois do(s) pedal(is) de saturação (overdrive e distorção)…

… no sample que segue, a guitarra está com o timbre limpo, e a cada pouco a velocidade do efeito é aumentado… peço que se preste atenção a cada vez que é tocado o lick com uma velocidade diferente, para que seja possível perceber o que o efeito pode oferecer ao seu som… perceba como o efeito com bastante velocidade oferece certa dramaticidade, sendo possível criar texturas/climas usando um efeito bastante simples ---

… uma dúvida muito comum acerca do phaser é quanto a posição dele na cadeia de sinal: se antes ou depois das saturações… isso vai muito do gosto de cada um, de como cada um prefere usar o efeito… no meu caso, por exemplo, gosto de usar o phaser para dar um molho às bases com distorções, ou mesmo nos solos, assim como faz o EVH… para tanto, coloco o phaser antes das saturações… tem, entretanto, quem prefira ter um phaser mais presente, mais forte, com uma modulação mais marcante… esses, por sua vez, colocam o phaser depois das saturações… para que seja possível entender a diferença entre colocar o phaser ou antes ou depois, o sample que segue mostra isso, com licks diferentes, todos tocados com o phaser antes (na primeira execução do lick) e com o phaser depois (na segunda execução do lick) ---

 

Por fim, meus amigos, espero que todos tenham gostado do primeiro texto do QUE PORRA É ESSA?… desde já quero registrar meus agradecimentos pela grande ajuda que o Charles deu, nos propiciando um ótimo texto sobre phasers…

… e não percam o próximo texto, que será publicado no dia 15/04, a princípio… hehehe

Abraços e até a próxima… ;]

11 comentários

Gladys de Paula Craveiro

Dobradinha Charles / Milton ficou show de bola. Parabéns a ambos.

Abraços!

Marcos (Lelo)

Milton Morales

Grande Lelo... valeu mesmo pela força... sabes que o texto ficaria muito melhor com "outra dobradinha", mas fica pra próxima... ;]

Abração...

Pedro

Excelente trabalho. Merece ser lido e relido! Adorei as possibilidades do phaser na cadeia, e de imediato, colocar o efeito antes da saturação me pareceu mais sutil e bonito. Testarei assim que possível!

Parabéns

Milton Morales

Pedro, obrigado mesmo pelos elogios... e de resto, teste todas as possibilidades e sempre busque o seu som... e no que pudermos ajudar, é só falar... ;]

Jack

Vindo de dois loucos(no bom sentido) por efeitos não dava para esperar nada diferente.

Muito bom!!!!

Milton Morales

Grande Jack... valeu pela força... ;]

João Vitor Martins

ótimas explicações pessoal, ainda estou em fase de montagem do meu set, e fiquei surpreso em descobrir que posso substituir até mesmo um tremolo e um flanger, muito bom !!!

A minha banda tem a pretenção de tocar cover de Pink floyd, e este pedal será muito útil, só para exemplificar, mo momento estou utilizando um pedalboard da Boss (BCB 60), um Fulltone OCD, um DD7 da BOSS, CE-5 da BOSS e um Dunlop Cry Baby, mas agora estarei adquirindo um Phase MXR, Obrigado !!!

João Vitor Martins

Parabéns pelo texto, é muito bom !!

Anônimo

mala detected uheuhe(e prêmio pá de ouro pra mim)

texto sensacional, assim, só não aprende quem não quer.

Valeu Toca!

Unknown

Muito bom ! Mesmo acredito torna me musico através de conhecimentos pesquisados na internet e este conteudo foi de grande valia para min ! Muito obrigado !

Rodolffo.

Muito bom bicho! Ajudou pra caramba!

Postar um comentário

Página Anterior Próxima Página