QUE PORRA É ESSA? – Chorus

15 de mai. de 2011 |

QUE PORRA É ESSA? – Chorus (Charles Fernandes)

Depois de falar do phaser, o chorus é mais um equipamento de MODULAÇÃO abordado pela Toca dos Efeitos. Bem, acho que já está na hora de você entender o que é modular, ou vai ficar ouvindo isso até se tocar que é uma ferramenta de efeitos que cria toda uma família com características próprias.

(Não serei repetitivo, mas dêem uma lembradinha nas explicações sobre Comb filter e Doppler que são fenômenos acústicos que abordamos no texto anterior - phaser, e que geram cancelamentos e desafinações naturais no som. Será difícil ir adiante sem conhecer a ação deles, pois as modulações, basicamente, imitam estes efeitos de acústica como modificadores de timbre).

O que é Modular? PORRA, o que é uma Modulação?

Modular é modificar, mas não apenas modificar: é fazer isso constantemente. Os equipamentos de modulação podem, de várias formas, modificar o timbre original, desafinando, oscilando ou cancelando, usando um LFO (low frequence oscilator) no som para que algum parâmetro varie constantemente. Apenas variar, ou seja mudar, não cria efeitos de modulação, é necessário que seja constante, pois dentro de um som existem vários comprimentos de onda, e cada freqüência precisa de determinado “ponto” para criar um efeito. O LFO corre o som com várias regulagens de um mesmo parâmetro para que ele atue em todo o som, ou seja, em todo o spectro produzido pela guitarra.

Se você tem delay analógico, o experimento é simples: enquanto toca, altere o tempo do atraso, pois você criará uma desafinação, um DOPPLER, usado na criação de vários efeitos de modulação como o Phaser, o Chorus e o Vibe. Mas quando pára de rodar o knob, o som volta a ser delay, ou seja, é a alteração constante dos parâmetros que gera os efeitos de modulação.

AGORA SIM... definindo modulação podemos definir o Chorus...

Porra, e o Chorus? Que é isso?

Chorus significa Coral, ou seja, duas ou mais vozes fazendo o mesmo som; digamos, tentando fazer o mesmo som, pois existem diferenças de timbre e de técnica que impedem os cantores de fazer vozes idênticas. Existirão no mínimo 3 variações entre as vozes, uma ligeira desafinação, ou vinda da técnica, ou das diferentes distâncias dos cantores até o ouvinte (Doppler); além do tempo de execução e timbre do cantor. A soma destas vozes diferentes criará um ENSEMBLE (Soma de Conjuntos físicos), que podemos entender como CORAL.

 

Para exemplificar, não poderia deixar de falar dos backing vocals de samba de roda, que por levarem o público a cantar em uníssono, são ótimo exemplo de chorus. No vídeo abaixo, em grande forma, o Maestro Benito de Paula (em homenagem ao autor deste texto) executa a linha vocal, e o público, junto dos backings, repete o refrão, que soa como coral.

 

Agora substitua a voz humana por instrumentos de corda, e as diferenças serão as mesmas: desafinação, tempo e timbre. Pode-se notar suaves oscilações e um timbre geral ligeiramente diferente do som de um instrumento somente, como se estivéssemos ouvindo o som dentro da concha de um caracol.

 

E finalmente, na GUITARRA elétrica, um abençoado teve a idéia de IMITAR este fenômeno acústico e desenvolveu um equipamento que altera o sinal eletrificado seguindo o mesmo raciocínio.

Tecnicamente, o chorus para guitarra duplica em paralelo o sinal da guitarra (splita), deixando um sinal passar sem alteração, que é chamado de DIRECT SOUND; o outro sinal recebe, primeiramente, um delay de menos de 50 ms, que faz com que o sinal splitado descole do original para poder ser entendido separadamente. Este delay, então, é MODULADO entre 0 e 50ms, gerando um doppler, desafinando o som, que muitas vezes altera o timbre, dependendo do equipamento utilizado, aumentando ainda mais o efeito de chorus.

Basicamente, o chorus é muito semelhante ao phaser, mas no chorus não se chega a proporcionar comb filters tão proeminentes, chegando apenas a imitar um leve doppler.

Neste vídeo você pode ouvir o Coral de uma só guitarra usado em “Come as you are” do Nirvana.

 

As diferentes marcas e modelos de chorus se baseiam nestas diretrizes, mas os diferentes componentes, seus valores e os parâmetros de intensidade e velocidade geram variados timbres entre eles.

Resumidamente, e simplificando ao máximo a explicação acima, o chorus foi criado para você não ter que aturar um segundo guitarrista imitando o que você toca, afinal de contas, um segundo guitarrista irá criar uma excentricidade na rotação do mundo (hehehe).

O chorus, assim como um possível segundo guitarrista em sua banda, pouco seria útil em solos, pois, em geral, é a hora da nitidez, mas é amplamente aplicado em bases e acompanhamentos.

Como exemplo final, vamos dar uma olhada na Orquestra de um só guitarrista para ver como ele usa seu chorus, aliado a delays, criando a sensação de múltiplos músicos.

 

Como nota de encerramento da parte explicativa do texto, posso afirmar que a técnica do chorus é muito mais complicada que sua utilização. Em geral as modulações são assim mesmo, mas devemos ter uma chave na cabeça, ligando o pedal a uma intenção, e sempre que aparecer esta intenção, intuitivamente o pé vai acionar o efeito. Para mim as palavras que vem a cabeça quando preciso acionar o chorus são DUPLICIDADE, PREENCHIMENTO, BRILHO, enfim, tudo que você ganharia se tivesse um segundo guitarrista te imitando.

 

E o caminho da prática, qual é? (Milton Morales)

A pergunta é bastante pretensiosa, ainda mais se alguém achar que tem condições de indicar um caminho apenas… ledo engano, que não procurarei cometer…

… de qualquer forma, para poder trazer à baila a minha experiência com chorus, e formas de usá-lo, creio que seja interessante entender/distinguir como soa um chorus, não é verdade?… eventualmente, ainda mais para quem é iniciante, é difícil saber o que é e como soam determinados efeitos… portanto, vamos conhecer como um chorus pode soar…

… no primeiro exemplo, procurei gravar um sample com o chorus em aplicações com a guitarra limpa, que vão de timbres bastante comuns de chorus, à um pouco de vibratos, abusando do controle de velocidade… adianto que na gravação foi usado um chorus simples, apenas com ajustes de velocidade (SPEED) e profundidade/intensidade (DEPTH)… ao final da audição, será possível concluir uma em duas possibilidades: 1) que o efeito de chorus não é um bixo de sete cabeças; ou 2) que o músico que toca é bastante limitado… espero que concluam pela primeira opção… hehehe ---

… se existe algo que a Toca procura estimular é que se mexa/fuça/gire a porra dos knobs dos seus pedais… procure conhecer todas as possibilidades que o seu pedal oferece, antes de pensar em comprar outro (fato comum entre os guitarristas… inclusive eu… hehehe)… apesar disso, alguns efeitos são, na minha opinião, muito diretos, e entre esses coloco o chorus… é claro que dependendo do modelo é possível filtrar frequências, ou mesmo ter timbres diferentes, entretanto, até o momento que escrevo esse texto, nunca encontrei, nos diferentes pedais que já passaram pelos meus pés, opções de uso muito diferentes que estas ouvidas no sample acima… sim, é possível explorar a velocidade do efeito, e conseguir um resultado diferente do usual, como na última parte do audio, mas em se tratando de aplicações/possibilidades, os caminhos são mais ou menos esses… se isso é ruim? Absolutamente não, tanto que o efeito de chorus é um dos mais vistos nos pés dos guitarristas… agora, da mesma forma é um efeito usado quase sempre com a mesma finalidade, o que significa que o diferente, no frigir dos ovos, será sempre o timbre do chorus: alguns terão um timbre mais gordo, e menos brilhoso, como o Danelectro Cool Cat, ou o EHX Small Clone, usado no vídeo acima, do Nirvana; outros terão mais presença, especialmente de agudos, como o clássico BOSS CE-2… portanto, o meu conselho é procurar o timbre de chorus preferido, porque isso será o determinante no efeito, e nem tanto o alcance de profundidade ou de velocidade, ou as possíveis aplicações que eventualmente um ofereça, e outro não, o que, em se tratando de chorus, é algo raro…

… outra forma muito interessante de usar o chorus é com distorções… aqui, penso eu, controles extras de LEVEL e TONE ou FILTER (filtro de graves e agudos) podem ser muito bem vindos, até para evitar que não haja um boost de volume demasiado quando o chorus for acionado, ou mesmo graves ou agudos que possam acabar descaracterizando o timbre da distorção… seja como for, a questão preponderante aqui é a posição do chorus, se colocado antes ou depois da distorção… para mostrar os diferentes comportamentos deste efeito antes ou depois, segue um sample onde é usado o chorus com distorção, gravado da seguinte forma: riff –> riff com o chorus antes da distorção –> riff com o chorus depois da distorção ---

… como comecei o texto escrevendo que não cometeria o erro de tentar dizer que há um caminho apenas para usar o chorus, insisto que qualquer palavra escrita aqui são as minhas conclusões acerca do efeito, mas não são, em hipótese algum, retrato de uma verdade universal… quem acha o efeito de chorus direto sou eu… pode ter quem ache que não… quem acha que as possibilidade de aplicações são mais ou menos as mesmas entre as opções do mercado, sou eu… pode ter quem ache que não… enfim, o importante é não se limitar às minhas experiências, nem as de ninguém… procure fazer a sua experiência a partir de experimentações… das minhas, posso dizer que acho o efeito de chorus bastante interessante, especialmente com drives/distorções… quando comecei a tocar, usava o chorus basicamente para dar uma cor diferente aos timbres limpos… hoje, podendo, prefiro usar outros efeitos, como flanger, phaser ou tremolo, ou até mesmo explorar melhor bons reverbs, sem nenhuma outra modulação… entretanto, para elaborar riffs distorcidos, tenho achado o chorus uma ferramenta muito interessante, que permite colocar uma dimensão diferente… se tivesse de achar um adjetivo para o que eu geralmente procuro quando uso um chorus, seria dramaticidade: quero que o chorus insira essa sensação ao som… portanto, experimente, você pode se surpreender… ah, e só para constar, gosto de usar o chorus depois das distorções…  ;]

… por fim, meus amigos, agradeço mais uma vez a participação do Charles, que sabe muito do riscado e que se dedica de verdade para fazer textos dessa qualidade para todos nós… e espero todos de volta em breve, quando postarei mais um review…

… afora isso, reforço que todos solicitem entrar no mailist da Toca, pelo email tocadosefeitos@yahoo.com.br , pois além da praticidade de receber por email avisos das novas publicações do blog, você fará parte da lista VIP da Guitar Mind, que traz ofertas e promoções exclusivas… NÃO PERCAM!!!

Abraços e até a próxima… \m/

12 comentários

Marcos "Lelo" Craveiro

QUE PORRA DE COMENTÁRIO É ESSE?

é simples, é a porra de um elogio ao post de vcs!

E esperando que outros que tiverem lido, façam "chorus" dele.
eheheh

[ ]s

Lelo

Milton Morales

Grande Lelo, valeu pelo prestígio... ]

Guga Ramone

Muito bom. Apenas um adendo: "Este delay, então, é MODULADO entre 0 e 50ms, gerando um doppler..." No Chorus o som é normalmente modulado a partir de 20-30 ms. Abaixo disso vc já começa a ter um Flanger. ;)

Milton Morales

Guga, valeu pelo prestígio e pela dica quanto ao atraso do chorus... ;]

Abraços!

rafael_cpu

Parabéns, a cada dia que passa a Toca fica melhor!
Grande post, excelente tema e magnífica participação.

Abraço.

Rafael

Milton Morales

Rafael, valeu mesmo pela força... ;]

Abraços!

Jack

Muito bom os textos como sempre. Apesar de chorus não ser minha praia, é um pedal elementar pra muita coisa. Difícil não ter um no set!

Milton Morales

Jack, valeu pela força... bacana que tenhas gostado do texto, mesmo sendo de um efeito que não te atrai tanto... ;]

Abraços!

JP

EU indicaria ouvir tambem os samples que colocarei o link aqui pra vcs conferire um otimo timbre de chorus
o Stereo CHorus da Maxon
PERFEITO.
http://www.maxonfx.com/Vintage_CS550.php
vou comecar a participar do blog mas devagar
JP

Milton Morales

Grande JP... valeu pelo prestígio e pela dica... ;]

... e participe mesmo, sem dó... hehehe

Abração!

Unknown
Este comentário foi removido pelo autor.
Charles Fernandes

Grande Jack, Já tive a oportunidade de vê-lo tocando ao vivo e fiquei impressionado com sua performance tocando Blues, que é sua praia. O Chorus, como mencionamos no texto, pode não ser o efeito mais usual na sua seara, alías gosto mais do seu timbre mais limpo e timbrado. Obrigado pelo comentário.

Postar um comentário

Página Anterior Próxima Página