Prólogo
A promessa desse review é coisa antiga, mas o fato d´eu acreditar que devia alto grau de comprometimento à análise do pedal que, ao que parece, é o grande burburinho virtual dos últimos meses, criando um nível incrível de interesse de todos, além de outros eventos, implicou na demora um pouco exagerada, tendo a concordar, da publicação deste texto... agora, muito dessa demora ocorreu, de fato, porque certamente hoje farei uma análise muito melhor do que poderia ter feito ontem, mas decididamente não melhor que aquela que poderei escrever daqui a uma semana... por quê? Bom, o pedal é muito versátil, a ação do tone stack é bastante diferente do que, presumo eu, muitos de nós estejamos acostumados, e etc., etc., etc....
... em tempo, antes de passar ao review propriamente dito, quero dizer que sim, sei que o texto ficou longo, mas não tinha como ser diferente, pelo menos dentro daquilo a que me propus, que era uma análise detalhista e meticulosa, na medida do possível...
Um breve histórico
O Tubestation chegou às minhas mãos, se não me engano, em meados de setembro. O primeiro teste, no meu, até então, bravo e companheiro Staner Kute25, foi muito interessante. Na ocasião, não tive muito tempo para testá-lo à exaustão, o que o tempo me mostrou não ser possível nem que tivesse todo o tempo do mundo naquele dia, mas pelo menos foi o suficiente para perceber que tinha nos pés algo diferente, que ensejaria mais da minha atenção do que a maioria dos pedais exigia, na medida que o tempo traz certa experiência e tato para chegar mais facilmente onde se quer com determinados equipamentos...
... após esse teste que, friso, “deu de sola” no meu pequeno Staner, por conta do ataque absurdo dos graves... hehehehe... fiz, no sábado seguinte, o primeiro ensaio com ele, num trio em que, basicamente, rola guitarra, bateria e voz... nessa oportunidade, tive algumas dificuldades para conseguir alguns timbres que conseguia com os meus pedais, pois a ação dos potenciômetros pareciam ter pontos precisos de atuação, ou seja, entre 9 e 11hs o resultado era o mesmo, mas acima das 11hs a mudança era brusca, até que tivesse nova mudança depois da 1h... notadamente percebi que teria de conhecer melhor o pedal e me acostumar com as nuances dele, que não eram poucas, razão pela qual optei por esperar e analisar melhor o Tubestation antes de escrever e publicar um review apressado, possivelmente previsível...
É isso o que interessa, é isso o que o povo quer...
Como já escrevi outrora, o Tubestation é um pedal diferenciado e indócil, no bom sentido... não é muito difícil conseguir uma boa regulagem com ele, mas ao mesmo tempo é um pouco mais trabalhoso conhecer à fundo os recursos e as possibilidades do pedal... portanto, vou dividir esse review em duas partes: 1) vou esmiuçar objetivamente os recursos do pedal... traduzindo, farei basicamente uma análise como as demais já publicadas na Toca, abordando o que objetiva e pragmaticamente o pedal oferece; 2) num segundo momento, pretendo ampliar um pouco essa visão mais pragmática e abordar elementos menos usuais na experiência com o Tubestation, como o uso com booster´s e etc....
Conceito
Não pretendo me alongar muito nesse ponto, haja vista que essa é a parte de conhecimento público e notório, qual seja, o Tubestation é um pedal baseado no pré da linha Rectifier, da Mesa Boogie, mais especificamente a Série 1 do Single Rectifier...
... para elucidar de forma pontual a afirmação acima, o João gravou dois vídeos usando o Tubestation num Horizon, da Lifesound, um amp. baseado também da estrutura dos Rectifier´s, feito por uma renomada empresa de amplificadores artesanais do Brasil. A intenção do vídeo não é mostrar que um é melhor que o outro, muito pelo contrário, afinal, tratam-se de dois produtos muito similares, mas de mercados distintos. Então, usando o mesmo power (do Horizon), o João mostra o pré do amp. e o do Tubestation com a mesma regulagem em ambos os vídeos. O que difere cada um deles é que no primeiro vídeo o Tubestation usa válvulas Sovtek, as mesmas dos Rectifier de fábrica, e no segundo vídeo o Tubestation usa válvulas J.J. Tesla, as mesmas que equipam o Horizon usado no teste... assim, vamos aos vídeos:
Construção
O Tubestation é muito bem construído. Conheço há algum tempo o trabalho do João Luiz e pegar nas mãos esse pedal mostra a constante evolução da qualidade do trabalho feito pela 56inc...
... o pedal é um tanque, construído numa caixa em aço. É true by pass, usando duas chaves 3PDT. Possui fonte interna com chaveamento bivolt. A versão padrão vem com 3 válvulas Sovtek 12AX7, as mesmas utilizadas nos Rectifier´s da Mesa Boogie...
... enfim, assim como os itens essenciais acima, bem como pela qualidade dos itens aparentemente secundários, como parafusos e pés anti-derrapantes, é fácil afirmar que o Tubestation é um pedal de ótima construção, muito acima da média...
Controles
Questão fácil de citar, difícil de explicar... hehehehe... bom, a parte fácil fica por conta do que se vê, pois o Tubestation vem armado com controles de VOL, HIGH, MID, LOW, GAIN e PRESENCE... a parte difícil fica por conta do que se ouve, pois o pedal tem um tone stack bastante complexo...
... ah, claro, explicando melhor: tendo por TONE as características sonoras do amplificador, o TONE STACK é o termo usado para descrever a resposta do TONE ao TONE CONTROL (potenciômetros), trocando em miúdos, é a variação da ação e extensão das freqüências (graves, médios e agudos) no timbre... e por que isso é complexo no Tubestation? Porque a extensão de ação das freqüências é muito vasta, ainda mais com um controle de PRESENCE que funciona, efetivamente, como um filtro de freqüências... além disso, aumentar ou diminuir qualquer controle, por exemplo, os agudos, enseja uma resposta e extensão diferente dos médios, no caso, com maior presença de freqüências mais altas... e esse é o tipo de situação muito pouco comum em pedais, pois normalmente as freqüências deles, aqui considerados, em especial, os com 3 ou mais bandas, são quase estáticas, ou seja, o potenciômetro de graves atua apenas nos graves, não atuando ou muito pouco nos médios, por exemplo...
... eu sei, parece confuso, embora eu esteja tentando não confundir tanto, mas acredito, pelo menos espero um pouco, que ficará mais claro ao final do review...
... então, voltando aos controles: o potenciômetro VOL nada mais é que o controle de volume do pedal. Como o Tubestation pode ser usando tanto como pré quanto como pedal, ele tem muita saída, justamente para poder trabalhar bem nos casos em que ele for ligado direto num power. Portanto, fica o aviso: COMECE A USAR O TUBESTATION COM O VOL ÀS 9HS, pois em alguns casos pode até ser mais que o necessário... começar usando o volume às 12hs, como é de praxe, pode, inclusive, estragar ou o amp. ou os falantes...
... o controle HIGH, por óbvio, fica encarregado dos agudos... os agudos desse pedal, num primeiro momento, podem parecer um pouco abelhudos, mas na prática não são... ele soam um pouco diferentes dos Marshall e dos Fender que tendem a ter um som mais seco... no caso do Tubestation, como é praxe em grande parte dos amp´s da Mesa Boogie, o timbre é mais macio, mais “fofo”, e dessa forma os agudos soam macios e presentes... pra quem costuma ter problemas com agudos nos pedais, o que é muito comum, a experiência com o Tubestation parecerá nova até por isso, porque o pedal oferece agudos efetivamente usáveis, que jogam a favor do time...
... o controle MID cuida dos médios... mas não só deles... pouco antes eu falei brevemente sobre tone stack... pois bem, é aqui que ele começa a aparecer... todos os controles atuam de forma mais ou menos determinante na ação dos outros controles, mas alguns se comunicam mais... na minha opinião, o MID faz par com o HIGH, assim como o LOW faz par com o GAIN... no caso dos médios, se eu aumentar os agudos de 10hs para 12hs, por exemplo, terei uma extensão maior de médio-agudos, ou seja, se os médios atingiam, hipoteticamente falando, 6 em médio-agudos quando os agudos estavam às 10hs, ele atingirá 8 com os agudos às 12hs, portanto, eu aumentei a presença de médios apenas com o controle de agudos... e a equação é inversamente proporcional, pois se eu aumentar médios, tenho uma ação de agudos menos presente... em alguns casos até mais presente... parece coisa de louco, mas acreditem, não é... pessoalmente, em relação à esses dois controles, agudos e médios, vejo os médios como “o” cabeça de história... depois de testar bastante, minha dica para quem for iniciar sua experiência com o Tubestation é que comece regulando os médios para depois fazer o ajuste fino com os agudos... considero esse o melhor caminho...
... o controle LOW cuida dos graves do pedal... e aqui, um comentário relevante, na minha opinião: os graves da Mesa Boogie possuem uma ação diferente... eles são profundos... como diria o amigo Charles, falando do controle DEEP, do pedal Marshall Guv´nor, “parece que eles vêem das profundezas”... diferentemente dos Marshall, eles não tendem a deixar o timbre mais seco, eles mantêm a maciez que lhe é peculiar, mas com mais profundidade, mais corpo... um amigo meu disse-me, certa vez, que parecia uma “sombra”... gosto desse adjetivo, embora tenha de concordar que entendê-lo depende de ver alguns vídeos, ouvir alguns samples, o será possível em breve, e, quiçá, tocar ao vivo com a “criança”...
... o controle GAIN, mais uma vez, por óbvio, é responsável pela ganho do pedal... agora, por que então afirmei acima que o LOW e o GAIN formavam um par? Bom, talvez eu tivesse mais dificuldade de perceber isso se não tivesse feito um MOD no meu wah que funciona da mesma forma, mas o que ocorre é que, especialmente no canal red, à medida que se aumenta o ganho, o timbre ganha mais corpo, quase como se estivesse aumentando os graves ao mesmo tempo... o curioso é que não são graves “sombras”, mas sim uma freqüência de graves um pouco mais presente... não chegam a ser do tipo Marshall, secos, mas mais presentes de forma que é possível tirar um pouco da maciez característica do timbre a la Mesa Boogie... portanto, são um par porque é preciso, assim como no outro par, cuidar de um para usar o outro, no caso, entendo que o ideal é primeiro achar a melhor regulagem do ganho para depois se ocupar dos graves, pois uma medida desmedida desses dois controles pode ensejar um timbre muito fechado, sem presença, e demasiadamente embolado...
... por fim, o PRESENCE é um filtro de todas as freqüências... a bem da verdade, é ele que bagunça e arruma tudo... é com ele que é possível ter um tone stack tão diferente mexendo tão pouco no potenciômetro, no caso, um TRIMPOT de acesso externo... com o pot mais a esquerda, o tone stack, em todas as freqüências (graves, médios e agudos), dará mais ênfase ao extremo mínimo delas, trabalhará com tonalidades mais baixas e fechadas; por outro lado, à medida que se aumenta o PRESENCE, tem-se mais presença de freqüências mais altas, sendo possível, dessa forma, abrir mais e ter timbres mais brilhosos... esse camarada, na minha opinião, é fundamental e faz toda a diferença do mundo...
Características dos canais
Como já mencionei em outras oportunidades, o Tubestation possui 2 canais: 1) green, que é um clean/drive, variando conforme o tipo e a saída do captador; 2) red, que é de hi gain puro...
... pessoalmente, não considero uma tarefa muito fácil descrever com bom grau de especificidade sobre esses dois canais, até porque, não posso negar, o meu trabalho será mais fácil ou menos relevante na medida que todos ouvirem alguns sons e virem os vídeos que seguirão abaixo...
... o canal green é um canal de resposta muito sensível... consigo sons completamente diferentes só trocando o captador... com o humbucker EMG81, meu captador da ponte, consigo um crunch cheio, considerando o ganho em 11hs... já com o single-coil do meio, um EMG-SA, consigo timbres absolutamente limpos, brilhantes e muito bonitos, mas, claro, em ambos casos, sempre macios... quando procuro pensar em alguns timbres limpos e crunchados conhecidos que me soaram familiar ao Tubestation, me ocorre referir Foo Fighters, Mark Tremonti, especialmente os timbres do Alter Bridge, e até mesmo algumas coisas de Andy Timmons, que usa um Mesa Boogie Lone Star, e que se assemelha um pouco ao canal green da linha Rectifier...
... o canal red, por sua vez, não tem meio termo, é hi gain puro... hi gain Mesa Boogie na veia, e, portanto, um timbre macio, e não seco... muita gente me pergunta coisas do tipo “dá pra tocar Pantera?”, “dá pra tocar Megadeth?”, e eu respondo que sim, que não falta ganho pra isso, mas que o Tubestation, assim como qualquer amp. Mesa Boogie Rectifier, possui características diferentes, já que não tem um timbre tão cortante e seco, mas mais cheio e macio... referências? Existem muitas... Nevermore, Machine Head, Killswitch Engage, Korn, Metallica (em todos os casos citados recomendo que se pesquise a época em que essas bandas usavam Mesa Boogie da linha Rectifier), enfim, grande parte do cenário de metal dos anos 90, bem como algumas bandas da atualidade, usa Mesa Boogie, seja o Dual Rectifier ou o Triple Rectifier...
... agora, como referência mais definitiva, para ambos canais, creio que poderia citar, no momento, Mark Tremonti... pessoalmente, gosto muito desse guitarrista, mas independentemente disso, ouvindo com mais detimento os dois CD´s do Alter Bridge, costumo encontrar diversas similaridades com alguns dos sons que tiro e, em especial, com as características do som do pedal, motivo pelo qual, recomendo a audição de ambos CD´s como forma de conhecer um pouco mais daquilo que o Tubestation pode oferecer...
Vídeos
Nesse tempo que tenho sido um feliz proprietário do Tubestation, gravei alguns vídeos, na maioria, todos ruins pela qualidade precária da máquina que utilizo... felizmente, dois sobraram com qualidade aceitável, embora neles eu mostre muito mais o pedal em ação combinado com dois overdrive´s na função de booster... por um lado, lamento, porque seria muito interessante poder manter a linha a que se deteve essa primeira parte do review, qual seja, analisar específica e isoladamente o pedal, embora, por outro lado, seja interessante, como forma de anunciar o que virá na segunda e bem mais curta parte do review... de qualquer forma, em ambos vídeos é possível ouvir o Tubestation isoladamente e conhecer um pouco melhor o som dele...
Epílogo
Amigos, mais uma vez, peço desculpas pelo tamanho do review... sei que será cansativo, reconheço que talvez pudesse ser menor, mas tenho de admitir minha falta de poder de síntese, bem como, por outro lado, o interesse e a intenção de passá-los o máximo de informação possível sobre o Tubestation...
... não tenho dúvidas ao afirmar que esse review é do tipo que será preciso ler mais de uma vez para captar melhor o meu ponto de vista sobre o Tubestation, devo frisar, justamente porque possui muita informação... claro, posso ter escolhido o caminho errado ao me estender tanto, no que peço desculpas aos que pensarem assim, mas achei que essa era a melhor maneira, na medida que trata-se de um equipamento novo, que ninguém pode testar numa loja, sem a mesma bagagem que ensejou escrever sobre o chorus BOSS CE-2 ou o overdrive BOSS OD-3...
... ademais, agradeço imensamente aos que conseguiram chegar até aqui e, desde já, aviso-os que em breve virá a segunda parte do review, desta vez, acompanhada de muitos samples...
... ainda, tenho de adiantar que, aqueles que tiverem dúvidas e quiserem fazer perguntas sobre o pedal, que o façam ou comentando no blog ou pelo email da Toca, pois, depois da publicação da segunda parte, farei uma compilação dessas perguntas e publicarei na Toca com as respectivas respostas para que todos tenham acesso às mesmas...
... de resto, como não poderia deixar de ser, fica o convite para o pessoal que ainda não faz parte do mailist da Toca dos Efeitos, pedir a inclusão pelo email tocadosefeitos@yahoo.com.br...
... por fim, abraços à todos e um ótimo 2008... ;]
4 comentários
parabens milton, ta muito bom, mas MUITO bom mesmo esse review, estou ansioso para a segunda parte.
ja pensou em virar escritor??
auoahaueaho
Keep on moving, Milton.
Gostaria de sugerir que, além dos vídeos, futuramente pudesse ser agregado ao review mais alguns samples (pelo 4shared) dando mais ênfase aos drives, partindo do clean, pois creio haver um bom número de guitarristas curiosos sobre isso. Teu vídeo já aborda um tanto desse grau, mas creio que seria interessante abordar com uma guitarra sem caps ativos tb (se possível).
Abraço e parabéns.
Milton, Ficou excelente o review, não se preocupe tanto com o tamanho do texto, afinal, informação nunca é demais, estou ansioso para ler a 2ªparte, abs
Maravilhoso review. Só pra complementar, eu consegui testar válvulas JJ e sovtek. A JJ eu não gostei muito. Achei meio abelhudas e o pedal virou meio um DS-1. Nem mexendo no presence resolveu... Voltei a sovtek e o timbre das profundezas voltou hehheheheeh.
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