QUE PORRA É ESSA? - Booster

27 de ago. de 2012 |

QUE PORRA É ESSA? – Booster (Charles Fernandes)

Há tempos já tem me dado vontade de falar sobre Boosters, não pela complexidade do equipamento, mas exatamente pela sua simplicidade, e por ser tão incompreendido pelos guitarristas;  o booster não atua diretamente, ele é um meio de campo, ele desenvolve idéias, mas nunca as realiza. Neste sentido, o booster não pode ser lido fora de um contexto, se não é apenas um pequeno equipamento de pré-amplificação, igual a vários que temos no nosso set.

Inicialmente acho importante definir um conceito, voltado a som limpo e ao som saturado, sujo, distorcido, alterado:

HEADROOM (WTF ???? )

Todo equipamento de amplificação possui um range de trabalho, uma zona onde é capaz de REPRODUZIR o sinal apenas aumentando sua intensidade e mantendo as características de timbre e spectro de freqüências. Após atingir este LIMITE de TRABALHO, o equipamento não consegue reproduzir o som com perfeição e passa a alterar as características do sinal, distorcendo-as. Esta linha de limite de incremento de intensidade é chamada de HEADROOM, o ponto onde o equipamento não é mais capaz de produzir som limpo, perfeito, ou pelo menos com características iguais entre input e output, exceto pela intensidade.

Eita, mas e daí? Qual a vantagem de se trabalhar com som distorcido? Porque não usar um som reproduzido perfeitamente?

Intuitivamente o guitarrista sempre foi tentado pela distorção, mesmo sem entender como funciona, pois as mudanças geradas pelo som saturado trazem ferramentas interessantes de timbre e técnica. Ao iniciar a distorção, o equipamento cria um limitador de intensidades, que de forma abrupta (hard clip) ou mais suave (soft clip), estabelece uma taxa de compressão,  melhorando o sustain, diminuindo a dinâmica e aumentando a intensidade de harmônicos, deixando-os mais evidentes, inserindo brilho.

Esta distorção pode ser forte e alterar muito as características do sinal, ou se apresentar de maneira sutil, mais transparente, apenas criando CALOR, PESO, TEXTURA... palavras abstratas, sim, para falar de um uso ligado a sensibilidade do guitarrista.

E o booster, onde entra nessa história ?

Pois é, o booster é o equipamento que vai levar seu amplificador ou distorção a ULTRAPASSAR o headroom, iniciando uma saturação, ou aumentar a taxa de distorção, aumentando a intensidade do sinal. Costumo dizer que um booster é um botão de GAIN fora e antes de um equipamento de amplificação.

Uma outra leitura EQUIVOCADA e que dificulta o entendimento do booster é:

“O Booster antes de uma distorção aumenta o Gain e depois dela aumenta o Volume.”

ISSO ESTÁ ERRADO!!!!!! Não funciona em 100% das utilizações. O correto seria falar:

“O Booster antes de uma distorção aumenta o Gain, e depois dela, irá influenciar o equipamento seguinte da cadeia.”

NA PRÁTICA, vou apresentar situações possíveis para uso de booster, e para tanto, acho fundamental fazer a leitura das opções DO FIM PARA O INÍCIO da cadeia de efeitos, pois as perguntas mais comuns vêem da falta de um panorama do equipamento usado.

Antes do POWER do ampli, no send/Return, pode-se usar boosters que possuam grande capacidade de alteração de intensidade, pois o sinal já está pré amplificado, ou alterar o level de output de um processador de efeitos posicionado no loop. Isso vai agir conforme as características do power do ampli e sua taxa de trabalho; se for um ampli de grande headroom, você vai promover um aumento de volume, de nível de intensidade sonora, e não terá distorção; mas se seu ampli já estiver FRITANDO o power, será como jogar batata no óleo (será que fui claro? Hehehe).

Antes do PRÉ amp, no INPUT do amplificador, você tem uma ação muito usual e que proporciona grande evidência do booster, pois em geral este estágio do amplificador distorce facilmente.

Antes de uma Modulação ou Delay você pode alterar o Mix, depht ou algum outro parâmetro, podendo até gerar distorção, que em geral não será muito interessante pois estes equipamentos não foram projetados para esta função. Portanto, se deseja alterar o pré do amplificador, e não os efeitos, use o booster exatamente como último pedal da cadeia.

Antes de uma distorção, outra forma muito usual, o booster gera a ação mais clara do equipamento, pois controla exatamente o ganho desta distorção.

Nesta posição, ou em qualquer outra posição onde o incremento de intensidade proporciona maior taxa de saturação, podemos usar um booster que possua algum controle de equalização, em uma função adicional, desejadíssima, chamada de Tone Shaper, ou “formatador de tonalidade/timbre”. O controle individual de graves e agudos antes de um drive pode incentivar ou atenuar a distorção por banda de freqüência, deixando parte do spectro passar mais limpa (sem saturação) ou mais distorcida, alterando drasticamente as características do equipamento.

Boosters Saturados também são interessantes, pois somam, nos equipamentos a sua frente, compressão e distorção próprias, criando novas taxas e características.

Fechando o raciocínio, e aproveitando para falar de um equipamento com ação exatamente oposta ao booster, vamos situar o PEDAL DE VOLUME neste contexto. Assim como o booster, ele altera a  intensidade de sinal, mas sempre reduzindo e TIRANDO saturação ou volume do equipamento À SUA FRENTE, com o intuito de limpar o som ou reduzir seu volume. Se você entendeu o conceito de booster, facilmente irá entender as diferentes  funções do pedal de volume no início ou no final da cadeia.

Muitos guitarristas usam um conceito interessante de regulagem, chamado de SWEET SPOT, onde regulam as intensidades dos equipamentos em níveis agradáveis de saturação, criando um ponto ideal de compressão, e que é alterado com boosters, pedal de volume ou simplesmente com o potenciômetro de volume da guitarra, limpando ou sujando ao seu gosto.

Passando a régua no assunto, eu afirmo que saber usar um booster é necessário até para quem não o usa, pois é uma forma de observar como seu equipamento se comporta em diferentes situações. Mais ainda, para saber usar um booster é necessário que se conheça o próprio equipamento, as taxas de trabalho de seu amplificador, tanto de pré como de power; de seus pedais de efeito e distorções; ou seja, usar boosters faz você pesquisar mais sobre seu próprio equipamento e descobrir suas potencialidades, seus pontos fracos, enfim, criar intimidade com o que é seu.

Epílogo:

Para quem não sabe, o “Que porra é essa?” é escrito à 4 mãos, ou eu iniciando a discussão e o Milton complementando, ou com o redator da Toca me instigando a escrever com seus textos interessantíssimos. Mas confesso que agora eu gritei TRUCO antes, pois nem imagino a profusão de idéias que passa pela cabeça do cara agora, para gravar suas distorções sempre ricas e bem setadas.  Confesso-me curioso com a próxima parte do texto e os samples certeiros do chefe. Da-lhe Miltão.

 

E o caminho da prática, qual é? (Milton Morales)

BoosterBom, de posse da pelota passada pelo Charles, só o que posso dizer é que farei o melhor possível… hehehe

… e digo isso por uma série de fatores: 1) falar sobre booster na prática envolve em grande parte experiência prática, ou seja, não dá para abordar tudo, a não ser aquilo que envolve a experiência do músico, no caso, eu… portanto, a minha abordagem partirá basicamente da minha experiência no assunto… é muito complicado falar de boosters, com alguma propriedade, na seara da tese e hipótese… o melhor a ser dito está naquilo já experenciado… pelo menos é isso que acho e que procurarei fazer nos vídeos abaixo…

… 2) uma vez que prometi ao pessoal do grupo da Toca dos Efeitos no Facebook que colocaria esse material no ar nessa semana, precisei produzir o material multimídia em pouco tempo e com poucos recursos… por essa razão, foram gravados 3 vídeos, sendo que o último visa aparar arestas dos 2 primeiros, já que muita coisa ficou vaga no pouco tempo e preparo para gravar esse material… assim sendo, peço que todos vejam os 3 vídeos, pois um é fundamental para o entendimento do outro…

… 3) ainda relativo aos vídeos, uma coisa que certamente atrapalhou o resultado final foi a forma como o microfone da minha câmera captou o som, cortando alguns picos e dificultando a percepção de alguns elementos de fácil observação, como por exemplo o aumento de volume com um booster limpo depois de uma saturação… ao vivo, a diferença era absurda, no vídeo ela quase não existe… e assim como nesse caso, algumas nuances de booster de freqüências e afins ficaram prejudicados… assim sendo, peço o máximo de atenção dos amigos nos detalhes e que dêem um desconto nos casos em que aquilo que se tentou demonstrar não ficou devidamente demonstrado… nesse casos, tomara que as explicações sejam suficientemente interessantes…

… 4) por fim, a grande dificuldade está em tentar produzir material que acompanhe a grande qualidade do texto escrito pelo Charles… minha recomendação é que todos procurem extrair o máximo desse texto, pois ele é muito bom e muito claro acerca do tema…

… de resto, meus amigos, vamos aos vídeos…

… os 2 primeiros, especialmente, têm problemas de captação de algumas nuances quando toco alguns sons, mas acredito que o maior valor do material está na experiência que procuro dividir sobre o tema… creio que nisso está o maior valor do material que produzi… espero que vocês achem o mesmo… ;]

Abraços e até a próxima…  ;]

2 comentários

Paulo Rori

Excelente post... Abs

Milton Morales

Valeu, Paulo, valeu mesmo... ;]

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